O tema de imigração tem ganhado um novo destaque político nos últimos dez anos. Surgiu ainda no primeiro mandato de Donald Trump quando se falou de se reforçar as políticas anti imigração nos Estados Unidos, tendo como símbolo um suposto muro que seria feito. Isso gerou várias repercussões, ficou um controle mais rigoroso. Isso já é há longo tempo uma política de estado americana, estando mais relacionada com interesses nacionais do que com o trumpismo, necessariamente. Ainda assim o surgimento desta ideologia em terras americanas fez com que isso ficasse mais forte, pois há uma defesa direta disso como uma de suas bases.
De forma direta e indireta, se espalhou isso pelo mundo. No caso brasileiro, existe uma xenofobia interna a qual muitas vezes se junta com uma aporofobia latejante. A região que mais sente isso é a nordeste a qual já tem essa visão do resto do Brasil há bastante tempo. Já tomou várias formas e várias justificativas, normalmente associada com uma ideia de atraso. Na atualidade se associa muito que ali seria uma região mais de esquerda por causa dos governos do PT e isso os teria tornado pobre. Como se isso não fosse resultado das oligarquias que desde sempre por lá mandam. E acabam migrando para outros locais. Majoritariamente nordestinos sertanejos ao migrar vão para as capitais nordestinas, que são litorâneas. Mas a xenofobia surge quando vão para outras regiões, tal como sul e sudeste.
No caso, mais recentemente, alguns deles tem ido para o estado de Santa Catarina, na capital Florianópolis. Os quais se juntam com catarinenses do oeste, maioria pobres que vão até a cidade tentar melhorar de vida, ter outras perspectivas. Há uma parcela dos habitantes que possuem uma xenofobia e especialmente uma aporofobia com relação a esta questão. Todos estes são brasileiros circulando dentro do Brasil, país onde tem garantida a livre circulação e trânsito por ser sua terra natal, todos os estados inseridos num mesmo contexto. Porém o prefeito de Florianópolis Topázio Neto, de maneira inconstitucional, colocou na rodoviária municipal uma espécie de alfândega a qual fará a análise de quem chega. Se for considerado pobre, será deportado de volta para a cidade que veio.
Não é exatamente de agora que a capital catarinense adota medidas de exclusão e discriminação social, numa espécie de tentar formar uma bolha de ricos e se vender como próspera. Tempos atrás havia já tirado a rodoviária da ilha, passando para a parte continental. Isso já era um projeto de higienização para apartar os pobres do centro da cidade, deixando apenas para classe média e ricos, escondendo o problema. Já era por si só um ato horrendo, mas a tal medida agora ultrapassa qualquer barreira de bom senso. É deliberadamente um projeto total de exclusão social e ainda visando o impedir de circular dentro do próprio país, do qual é cidadão. Se o sujeito é pobre, tem total direito de buscar melhor vida dentro de sua terra, buscando onde melhor lhe for, se sua cidade natal não lhe permite.
Como prefeito, seria muito mais sensato e correto para Topázio fazer política de inclusão na cidade, aumentando sua capacidade ou mesmo, aproveitando que está na capital, falar com o governador Jorginho Mello para melhorar a situação nas regiões de onde essas pessoas vem. Para uma verdadeira prosperidade não é ela feita se expulsando ou proibindo pobres de entrar. Mas sim solucionando a pobreza. Da maneira como estão fazendo é uma falsa prosperidade, restrita a meia dúzia. É improvável que tal medida perdure, por contrariar a Constituição Federal. Seja como for, já mostra a disposição política de alguns prefeitos por aí. E que há um forte perigo rondando em torno, que quer tornar o Brasil cada vez mais excludente e persecutório, ao invés de fazer seu trabalho que é a busca do bem comum. Enquanto tais disposições tiverem força, seguirá o Brasil desigual e inundado de problemas sociais.