A pré-campanha de Ricardo Cappelli (PSB) ao Governo do Distrito Federal ganhou contornos de novela barata: denúncias, estrutura paralela de comunicação, simulação de presença digital e uma torre de celulares e notebooks para fabricar engajamento como se fosse espontâneo. O forasteiro, que se diz a pessoa ideal para governar o DF, abusa até do cargo que ocupa na ABDI. E tudo isso embalado com um discurso de eficiência, modernidade e “ética”. É rir para não chorar.
Ricardo Cappelli tenta se apresentar como o gestor moderno, técnico, iluminado — aquele que chegaria de fora para arrumar a casa, como se Brasília fosse um playground político carente de um tutor. Mas, curiosamente, o cidadão que posa de o homem da moralidade parece ter escolhido um caminho bem mais tortuoso: o da operação subterrânea, dos perfis maquiados e das interações digitais de fachada.
Segundo ex-integrantes da própria equipe e mensagens internas que vieram à tona, a ABDI — que deveria fomentar desenvolvimento industrial — virou cenário de um suposto “bunker político” no Setor Comercial Sul. Lá, uma tropa comandada pelo gerente de marketing Bruno Trezena operava como se estivesse em missão especial: produzir conteúdo, atacar adversários, impulsionar o nome do chefe e fingir naturalidade nas redes sociais.
E não era uma brincadeira despretensiosa. O esquema tinha regras duras, quase um quartel do marketing clandestino:
— 70 comentários por dia;
— 10 publicações respondidas;
— 60 mensagens enviadas;
— 30 ligações pelo WhatsApp;
— tudo com “padrão humanizado”, emojis moderados e vigilância gramatical para não manchar o brilho jornalístico do pré-candidato.
Afinal, nada mais constrangedor do que um “líder modernizante” cometendo erro de português, né?
Equipamentos? Sobrou para o bolso público: cinco celulares, cinco notebooks e uma estrutura que faria inveja a muito marqueteiro profissional. Tudo para simular a presença digital de Cappelli como se ele fosse um fenômeno orgânico de simpatia e engajamento. No fundo, era só um exército digital camuflado — trabalho que, ironicamente, nem sequer respeitava rudimentos de dignidade trabalhista.
Os relatos são de demissões sem aviso, atrasos nos pagamentos e um clima de medo. Gente sendo descartada como se fosse descartável mesmo. E, para completar o enredo, a cereja amarga do bolo: depoimentos de ex-funcionários descrevendo o pré-candidato como “vingativo”. Um líder inspirador, sem dúvida.
Deixemos claro: um pré-candidato tem todo direito de se comunicar, se promover e montar equipe. O que não pode — e isso qualquer estudante de jornalismo sabe — é usar estrutura pública para fazer campanha, manipular percepção dos eleitores e maquiar engajamento como se fosse real. Isso não é só antiético. É uma gaiatice que beira a irresponsabilidade.
Quando o forasteiro que se diz “a voz certa para o DF” abusa até do cargo que ocupa, fica difícil acreditar na conversa fiada de moralidade, modernidade e missão pública. Brasília já teve seus problemas com aventureiros políticos. Parece que sempre tem espaço para mais um.
O eleitor do DF não precisa de salvador importado. Precisa de gente séria, que trabalhe às claras, não atrás de um bunker digital operado com celulares fantasmas e funcionários aterrorizados.
No fim das contas, a história que veio à tona diz muito sobre quem Cappelli realmente é — e não sobre quem ele tenta parecer nas redes sociais cuidadosamente polidas pela sua tropa oculta. É o tipo de enredo que qualquer brasiliense, calejado de promessas vazias, reconhece na hora: quando o discurso fala alto, mas as atitudes denunciam o verdadeiro caráter do gaiato.
Por enquanto, resta aguardar as explicações — se é que virão. Enquanto isso, o eleitor observa. E observa bem.