Como uma das áreas que mais afeta diretamente as pessoas e a organização social, o trabalho torna-se algo fundamental na organização social e estruturação da sociedade. A partir do momento em que nos defrontamos com as hostilidades, adversidades e perigos desta vida, pelo trabalho promovemos nossas melhorias, nossa reação contra isso, nos tornando mais fortes, melhorando a vida. Certamente que isto não chega em todas as pessoas e é feito de maneira desigual e injusta, porém o fator do trabalho é fundamental para fazer mudanças na realidade. Neste sentido, entender o trabalhar, sua organização e necessidade é um ponto fundamental em ver o porquê ele existe e de qual maneira deve ser organizado.
Estando nós perante uma realidade que sempre buscamos aprimorar e transformar, para interesses pessoais ou coletivos, entra o trabalho como uma necessidade. Seja ela do estômago, quando precisamos produzir alimentos ou fazer algo que esteja intrinsecamente ligado com questões fisiológicas nossas ou da fantasia, quando queremos algo porque gostamos, que faz parte de nossa personalidade. Nos dois casos, o trabalho em si é importante para que tais ações se concretizem. Mas sua organização e forma que são ruins e desiguais, gerando pessoas que se beneficiam deste trabalho e outras que não o recebem ficam a margem deste.
Para pensar o trabalho, primeiramente seu aspecto mais importante é o da divisão do trabalho. Ao ser apontada por Durkheim, tal divisão estava relacionada com a organização deste e suas ramificações. Naquele contexto, apontava para as mudanças vindas com a revolução industrial, a qual tinha feito nova organização e divisão do trabalho. No advento da produção por máquinas, o que se criou maior nível de produção e a crescente automação da mesma, o que substituiria trabalho humano. Tal debate, embora sempre se renove com cada inovação tecnológica que surge, a qual modifica algum aspecto do trabalho e por vezes o reformula radicalmente. Porém não o abole, sempre havendo alguma função humana para determinadas tarefas.
Mas sempre se necessita de trabalho humano em alguma forma, muito porque este é o que pensa, planeja e executa as coisas. No fim, o que faz a tecnologia é facilitar algumas tarefas, mas não consegue substituir pessoas. Neste aspecto, o trabalho termina sempre se renovando, se recolocando como um fator. Ele é antes de tudo feito por necessidade, como bem observou José Mojica. E que dentro deste fator, adquire tanto o caráter de necessidade imediata quanto a de uma necessidade advinda da vontade de se fazer algo que requer trabalho. Então ele sempre está presente, sempre voltando.
Neste sentido, o problema mais urgente em relação a ele é sua organização, ou seja, que seja ele reordenado e reorganizado. Atualmente ele está diretamente ligado ao capital, sendo uma das ferramentas dele. Se trabalha para obtenção de capital, crescimento deste. Este é o foco do trabalho na forma atual. Ao ser assim, privilegia ele o enriquecimento daquele que detém tal capital, em detrimento de um bem comum. Ao tirar do trabalho o aspecto de produção, de se trabalhar para aprimorar e tornar as coisas melhores.
Então o trabalho precisa ser essencialmente voltado para a produção de mercadorias e para a execução de processos que nos façam bem coletivamente, não fiquem subordinados e voltados para a lógica e ordem do capital. O uso do trabalho e dos meios de produção precisam estar desta forma coordenados, usando outro tipo de lógica. Sem querer cair em ingenuidades, pois o capital é muito forte e poderoso, mostrou ao longo do século XX que não é tão fácil de quebra-lo, não é algo perdido. Sua lógica estando diretamente associada com a desigualdade, disso não mudará. Entender como aproveitar o trabalho e modificar sua lógica será a única forma de se melhorar as condições das pessoas em diante. Ver como se organizam as coisas e como pode isto ser diferente.

