"Quero descobrir o ladrão que aumentou o preço dos ovos." A frase é de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, que mais uma vez decidiu transformar um problema econômico complexo em um espetáculo de populismo barato. E, como sempre, os alvos são os vilões imaginários que ele cria em seus discursos. Agora, pelo visto, os comerciantes de ovos devem dormir com um olho aberto – nunca se sabe quando uma operação policial pode bater à porta para investigar o “crime” de um aumento de preço.
Lula deve ser um fanfarrão. O presidente brinca com a inteligência do povo ao sugerir que há um “ladrão dos ovos” por trás da alta nos preços. Como se a inflação, os custos de produção e a carga tributária não fossem os verdadeiros responsáveis. Como se fosse possível governar um país de dimensões continentais na base da retórica de palanque e da caça às bruxas.
Se o presidente realmente quiser entender o que está acontecendo com o preço dos ovos, basta conversar com produtores e economistas. Mas isso não gera manchetes populistas, não engaja a militância e não rende aquele velho discurso de “nós contra eles” que ele tanto gosta de empregar.
O risco do populismo econômico
A grande questão aqui não é apenas o disparate da declaração. O problema é que Lula é um caso de polícia no sentido político – suas declarações irresponsáveis têm impacto real na economia e podem gerar consequências desastrosas. Quando um presidente insinua que há criminosos por trás da variação de preços, ele pode estimular investigações arbitrárias, criar instabilidade no mercado e até desestimular investimentos no setor produtivo.
Em tempos de crise, qualquer medida que traga ainda mais incerteza pode resultar em prejuízos para os próprios consumidores que Lula diz defender. Se a lógica do governo é encontrar um vilão para cada problema econômico, logo veremos operações policiais contra feirantes, padarias e supermercados. Afinal, quem pode garantir que o preço do pão não será o próximo alvo dessa cruzada populista?
A verdadeira responsabilidade
Se há um “culpado” pelos preços altos, ele não está no comércio de ovos. Está na condução da política econômica do país. Está na carga tributária que sufoca empresários. Está nos gastos públicos que inflam a inflação. Está na falta de reformas estruturais que poderiam tornar a produção mais eficiente.
Lula deveria saber disso. Mas o populismo é mais conveniente do que a responsabilidade. Enquanto os preços sobem, ele entrega ao povo uma nova história para desviar o foco: a do grande ladrão dos ovos, que, claro, precisa ser descoberto.
Só falta agora algum assessor sugerir a criação da Polícia Federal do Ovo. Porque, no Brasil do populismo barato, sempre há espaço para mais um absurdo.
