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Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025

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Um dia na montanha Lysica- parte 3 (final)

Havia uma grande chapa de metal bem no centro, em cima de algumas pedras.

Ensaios Literários
Por Ensaios Literários
Um dia na montanha Lysica- parte 3 (final)
Montanha Lysica; wikimedia commons
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  Adentrando a gruta, via ali ser um local de paredes cor de mármore, chão plano e vários apetrechos. Havia uma grande chapa de metal bem no centro, em cima de algumas pedras. Do lado, bem próximo, fogão a lenha. Tinha algumas espécies de salas ali dentro, formadas por fendas naturais na gruta. Uma delas com uma bacia de pedra com água quente, sendo um ótimo local para banho. No teto acima da chapa havia também uma abertura sob a qual se enxergava o céu e pairava a lua. No formato que o satélite estivesse ficava bem focado. Era uma enorme e redonda lua cheia aquela noite, na forma certinha, sem faltar nada.
   Francisco Chagas reparou nas diversas coisas que havia ali. Faca, cutelo, garfo, prato. Alguém devia morar lá, já que havia tantas coisas de cozinha. Perguntou sobre isto para Pola que contemplava a lua. Antes de dizer algo, o chamou para apreciar. Mais uma vez sentia uma fortíssima energia ali, aumentada pela visão lunar. Cada vez mais sentia as energias dali, antigas forças pagãs com o catolicismo sedimentado por cima. Um sincretismo forte, que gerava um embate religioso. Olhando a lua ficava aquilo mais forte, como se fosse o grande símbolo e força que coordenava toda a religiosidade, indo além das marés. 
  Pola concordou que era realmente forte e lindo se ver aquilo. Aquele local emanava todas as forças. Explicou sorrindo que o motivo de ter tantos daqueles apetrechos era por ser um antigo local de rituais pagãos, onde bruxas os faziam. Ainda que o catolicismo tivesse afastado aquelas práticas, ainda assim restaram como vestígios históricos. Queria ele sentir o máximo possível daquelas forças que pairavam na montanha. 
    Para isto ser bem feito, disse a Polonesa, primeiro teria ele de tomar um banho naquela pedra e vir, pois precisava estar limpo e purificado para a apreciação ser verdadeira. Então deitar nu naquela pedra bem ao centro e olhar para cima, que viria a força da lua sobre ele. Questionou levemente ela, mas esta afirmou ser parte de antigos rituais e costumes poloneses, que trariam uma energia e espiritualização que entenderia. Para ser completa, deveria por as mãos em cordas na forma de argola que estavam nas pontas, um antigo amuleto usado para trazer sorte nestas situações, de onde diziam emanar a força.  
   Tirou a roupa ali no local, sentindo frio, mas este passou ao se banhar na água quente. Sentiu várias energias negativas indo embora, além de sentir se esquentando. Saindo do banho, não viu Pola, mas se deitou na pedra. Colocando as mãos nas argolas, sentiu-as ficarem presas. Tentava e tentava, não mais as conseguia mexer. Mexia somente os dedos, mas eles nada conseguiam fazer ali. Foi ficando com medo, pois mexia, mexia e continuava preso. 
    De repente, Pola apareceu. Tinha tirado a túnica e o xale que tinha, estando agora com outra túnica, toda roxa. Tinha também atrás da cabeça um círculo, que era a lua cheia. Preso por uma tiara a cabeça dela. Vendo aquilo, um pavor subiu por todo o corpo de Francisco. Pelado e acorrentado com as mãos, a via daquele jeito agora, como uma bruxa pagã, que reconheceu a roupa dela. Estava muito bem preso nas mãos, não conseguindo reagir. Veio ela em direção a ele, sorrindo fortemente. O frio ainda era considerável, mas ele já não sentia nada, tomado pelo terror extremo.  
     Bem próxima a ele, reparou o tenente que tinha ela um enorme facão na mão. Comentando sobre como fora fácil o levar até ali, e como ficara ele tomado pela energia e por suas palavras, pegou o pau dele pela ponta, deixando o facão na outra extremidade. Onde estava à lâmina fez um ligeiro e certeiro corte, arrancando tudo de uma vez. Congelado nas frações de segundo que demorou em aquilo ser feito, ao voltar reparou que não tinha mais nada, só uma poça de sangue ao redor da virilha, pingando e vazando na chapa.    
- Já vi maiores, mas o tamanho deste está bom. Só preparar agora- Disse Pola. 
     Colocou então o órgão em cima do fogão a lenha, e acendeu, o fritando. Vendo o próprio pau ser preparado, Francisco sentia sensações que nada passava perto, um nojo, pânico, susto, raiva e várias outras que nem sabia que existiam, as conhecendo agora e sendo incapaz de nomear. Tentava de tudo que era jeito se mexer, mas, não sabia como, não tinha jeito daquelas cordas cederem.  Ao ficar pronto, bem tostado, Pola o pegou e mordeu a ponta, engolindo, saboreando. 
- Gostaria de um pedaço para tira gosto?- Perguntou ela a Francisco. 
    Ali não desmaiou ele por muito pouco. As sensações iam muito além de tudo que já pudesse ter experimentado ou imaginado. Próximo as pernas dele, sangue escorrido na chapa. A polaca terminou de comer o membro, em seguida pegando algumas lenhas e colocando em uma porta embaixo da parte onde ele estava e pondo fogo em seguida. Começou Francisco a sentir o calor abaixo de si, percebendo que estava deitado em uma grelha gigante. Não demorou a perceber as costas queimando, não conseguindo se virar.
  - Sabe Francisco, a pele é uma parte deliciosa, e quando está trincando é porque está no ponto. Significa que a carne está pronta para ser comida. Em porcos e nos humanos, parentes até bem próximos- Comentou Pola.
     Escutou e entendeu. Sentiu o que aquilo provocava, mas estava mais focado no próprio corpo. Quando mais o fogo e o calor aumentavam, pior ficava tudo aquilo. Tentava mexer as mãos para sair e nada, tendo cada vez mais certeza de ter algum encantamento naquilo. Começou a gritar desesperadamente, a se sacudir cada vez mais, a espernear, tentar ficar o mais longe possível do fogo. Quando, de repente, parou. 
    Com as costas do rapaz bem douradas, pele bem trincada, Pola tirou as mãos dele ainda presas na corda, e a virou. O corpo imóvel ia agora assar o peito e a frente, só com um buraco no local do petisco. Após estar todo trincando, foi tirando os pedaços e comendo. Na primeira noite tirou algumas lascas. Levou as sobras para a cabana. Ao longo dos próximos dias e noites comeu e saboreou o resto ao longo de uma semana.
    Após terminar de comer as carnes, levou de volta para a cabana os ossos. Os deixou ali, para que fossem partes de um dos feitiços. No dia em que Francisco fora assado, quem passasse no pé da montanha veria apenas uma fumaça saindo pelo alto. Quem subisse na Lysica agora e entrasse na gruta veria uma pilha de ossos humanos. Facilmente encontraria as costelas e fêmur, dispostas em locais visíveis na gruta. E um crânio na água de banho. Três semanas após aquele dia, começou a primavera. Nasceram flores no topo da montanha e dentro da gruta.  

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