No mês de dezembro algumas medidas econômicas do governo Lula estão chamando atenção. As quais têm este patamar pelo que representam neste momento e contexto, bem como a maneira como será conduzida a política lulista daqui para frente. Uma das que mais chamou a atenção da grande mídia foi à questão do valor do dólar estar em R$ 6,28. Um patamar alto, ainda que não o mais alto em relação aos anos anteriores, como 2022. Internamente seu impacto não é tão forte, embora chame a atenção do mercado financeiro, que mais uma vez usa este ponto para criticar o presidente.
Para além desta questão, outra que chamou bastante a atenção, esta mais de campos progressistas, foi mais um anúncio de corte de gastos. No qual ficou destacada a mudança em regras do BPC, do qual muitas pessoas dependem fortemente, especialmente deficientes de diversas formas. Tais mudanças dificultariam o acesso ao benefício, além de limitar seu uso e expansão. Houve também outros anúncios de cortes, porém este é destacado, sobretudo por se propor a mexer em algo tão delicado e importante.
Mais uma vez ficam assim expostas as fragilidades e limitações do governo Lula em diversos aspectos. Nos quais se destaca a pouca força que tem frente setores sociais principalmente do mercado, onde não consegue romper ou descumprir a demanda por corte nos gastos e serviços públicos, que está sendo demandada com cada vez mais força e violência, bem como algumas das jogadas e contradições governamentais. Se, por um lado, há um aquecimento econômico, com aumento do consumo, que foi maior neste fim de ano que o mesmo período nos anteriores, bem como uma queda no desemprego, gerado por tal aquecimento econômico.
Quando há um aquecimento econômico e maior consumo no capitalismo, pelo próprio mecanismo da oferta e demanda, há aumento nos preços, gerando inflação. Aqui não foi diferente. Ao mesmo tempo em que há este maior consumo e, consequentemente, maior giro econômico, há o aumento dos preços. Que é sentido pela população, gerando ressentimento para com o governo. Que é alimentado pelo mercado financeiro, gerando um sentimento de ineficiência governamental. O qual também muito se alimenta devido a atitude do governo de, por um lado, fazer acenos para a população através de política social, mas fazendo severos cortes em coisas importantes, como o BPC.
Ainda que agora tenha o governo conseguido manter várias das regras originais do BPC, vetando muito das propostas do PL original, fica ainda um momento de certa instabilidade. Uma das razões para tal veto é, certamente, o impacto social pesado e negativo que isto traria. Prejudicaria diretamente milhões de pessoas que dependem de tal política devido a suas deficiências, gerando um problema social gigantesco, maior que qualquer problema de gasto nas contas públicas. O que já mostra uma sensatez em pensar na importância e valor dos impactos e necessidades sociais. Pois um corte brusco no BPC como proposto geraria um déficit social muito pior que qualquer déficit nas contas públicas.
O modelo de administração lulista, que teve seu auge nos anos 2000, auxiliado pelo boom das commodities, ainda é o mesmo. Opera, certamente, em um cenário mais árduo e economicamente mais magro do que aquele onde teve seus melhores momentos. Com o capitalismo tendo crises cada vez mais agudas e violentas, alem de aumentar gradativamente a concentração de renda em cada vez menos pessoas, a questão de se fazer uma economia baseada em jogos de interesses fica cada vez mais apertada e restrita. O que exigiria uma reforma econômica capaz de modificar os meios e modos de produção, bem como novas dinâmicas econômicas, que tivessem naturezas diversas. Neste cenário o modelo lulista entrega ainda suas formas antigas, conseguindo fazer aumento de consumo e maior giro econômico. Também carrega muito dos problemas e contradições da época, porém tudo ocorrendo em um cenário diferente. Passa-se por algumas transformações sociais, que transcende a política lulista, sendo mais uma etapa decisiva no transcorrer do capitalismo. O que disso sairá maior concentração do que agora ou modelos mais distributivos dependerá das políticas a serem feitas.
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