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Sexta-feira, 18 de Abril de 2025
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Política

Contradições militares brasileiras

É o exército um reflexo da organização e das contradições sociais de seu estado, os colocando em perspectiva militar.

Pedro Fagundes de Borba
Por Pedro Fagundes de Borba
Contradições militares brasileiras
Militares brasileiros; Flickr
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   Como o braço de força bruta dos estados nação modernos, o exército desempenha sobretudo uma função externa, de ações externas. Estando envolvidos em tensões e processos políticos que frequentemente resultam em conflitos entre as nações, usam o exército tanto como ferramenta direta, orquestrando e ordenando combates, quanto como ferramenta de ameaça, constrangendo a ação de outras nações. É essencialmente um braço do estado, algo que lhe está à disposição, devendo fortalecer e proteger o país em questão. 
    É o exército um reflexo da organização e das contradições sociais de seu estado, os colocando em perspectiva militar. Cada estado nação projeta e maneja as suas forças armadas a partir de seus interesses e maneiras políticas. Até por assim se lançar e organizar sua política, orquestrando junto seus elementos militares. Na grande maioria dos países isto é feito de dentro para fora. Especialmente os chamados desenvolvidos, que usam esse recurso como maneira de garantir sua hegemonia político econômico nos demais. Há outros mais fracos que lhes usam mais como defesa ou como elemento de soberania nacional, para evitar ataques de outros países. Também para defesa de fronteiras, nas diversas tensões ocorridas nestas áreas territoriais. 
   Por mais que o exército brasileiro cumpra também estas funções, termina este tendo uma contradição de muitas vezes se voltar mais contra o interno que o externo no Brasil. Isso se dá em relação a política especialmente, onde termina sendo usado ou projetado como ferramenta de golpe, ou uma instituição que deveria intervir politicamente. Tal ação de interferência teve dois picos; a Proclamação da República e o golpe de 1964. Quase ocorreu no 08 de janeiro mas, à exceção da Marinha, não teve este real apoio militar direto. Falando do primeiro, para muitos talvez o maior problema da República Brasileira que é a Proclamação de caráter militar desta, onde teria o exército se julgado dono desta mesma República. Logo o elemento que de alguma maneira teria sobre ela a voz final. Neste caso há um mais delicado aspecto por causa que a monarquia se reproduziria constantemente, a menos que fosse interrompida. Devido a mudança governamental, se teria outra postura. 
   É bastante mais grave, entretanto, a ação militar no golpe de 1964. Pois ali, diretamente, houve uma traição às suas funções e lealdades para com o Presidente da República, João Goulart. O qual, na estrutura social brasileira deveria ser integralmente protegido pelas forças armadas, que institucionalmente garantem seu mandato e suas políticas. Assim não fizeram por terem se envolvido diretamente na conspiração formada para a derrubada deste, para a destruição de seu projeto nacional trabalhista. Ali fica muito demonstrada a intervenção política e a contradição. Pois em vez de se atacar para fora e defender para dentro, se ataca para dentro. 
   Esta contradição está assentada, sobretudo, em função de que é o exército a reserva de força bruta do estado. O primeiro nada faz sem a autorização do segundo. E é o estado controlado pelas forças mais poderosas de uma sociedade. Que exercem seu poder das mais variadas formas e o militarismo é delas. No caso, embarcando na conspiração da elite brasileira da época e do governo americano, que queria combater o chamado comunismo na América Latina, criou estas conspirações e sabotagens políticas para derrubar governos de esquerda. Usando a força militar para isto. Seria em alguns sentidos o exército o poder moderador da República, que cabia ao Imperador durante o Império. Não elaborando tais políticas, mas as aplicando. 
     Sendo esta força que serve aos dominantes, é o exército em contradição por muitas vezes não cumprir sua função de defesa nacional. Mas de muitas vezes fazer o oposto: o ataque, a intervenção. Nisto prejudica o desenvolvimento e o fortalecimento brasileiros, mantendo as decisões junto aos plutocratas de sempre, preservando e reproduzindo as desigualdades. No caso dos chamados países desenvolvidos, por terem uma força econômica maior, suas classes dominantes usam os exércitos como uma projeção externa de seu poder, uma forma de se fortalecer e dominar outras áreas. A contradição militar brasileira está diretamente ligada com a político econômica. Havendo o uso de forças armadas como um braço de tais contradições, as mantendo.  
  

Pedro Fagundes de Borba

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