Nesta semana a principal notícia foi que agora oficialmente Jair Bolsonaro indiciado por participação e apoio na tentativa de golpe de estado de 2022. Após um longo período de deliberações, de morosidades e de análises, finalmente se percebeu que o ex presidente não apenas apoiou como foi figura central em tal tentativa. O embasamento estando principalmente por seu ajudante de ordens, coronel Mauro Cid, onde arquitetou diversas partes, tanto de assumir o poder via golpe, assassinar Lula e Alexandre de Moraes e fazer uma forte mudança política a partir de tudo isto.
Naquele contexto, no qual já vinha insuflando insultos e ódio contra o STF, atacando outras instituições em geral, deslegitimando a urna eletrônica e querendo já dar um golpe durante sua presidência, teve naquele momento Bolsonaro seu auge. Ao não reconhecer a derrota, já fazendo de maneira escondida, insuflações contra o processo eleitoral, além de ter colaborado com incitar a população para ficar em frente aos quartéis, pedindo golpe de estado. Naquele momento, nos últimos dias de mandato, saiu do país, para não ficar no olho do furacão que sabia que viria, não passando a faixa presidencial para Lula.
Depois do 8 de janeiro e seus vários desdobramentos, incluindo a prisão de vários peixes pequenos que vandalizaram e a isenção de patrocinadores grandes, muito se falou sobre a participação e o envolvimento do Bolsonaro em tal processo. Durante este período de quase dois anos, muito se apontou do envolvimento, de ter dado apoio em bastidores, as delações de Mauro Cid pesaram bastante neste processo, juntamente com a prisão de Braga Netto, que seria um dos principais articuladores. E muito provavelmente puxaria o tapete de Bolsonaro caso o golpe desse certo e esse se proclamasse ditador.
Com o indiciamento, se abre de fato um espaço para que se possa julgar o ocorrido, e o efeito do fenômeno bolsonarista de forma mais orgânica e completa. Desde sempre houve esta inclinação, esta intenção, pois está diretamente com a visão que o bolsonarismo usou e ainda usa. Que varia desde espalhar intensamente fake news sobre diversos assuntos, especialmente políticos. E também fazer um processo contínuo de distorções históricas, políticas, sociais e mesmo culturais, tentando insuflar que a cultura atual seria má ou degenerada. O que produzia socialmente um processo de alienação e idolatria em torno de Bolsonaro, que congregava todos esses fatores, sendo um pouco a síntese disto.
Não era nem uma figura e nem um caso isolado, mas inserido em um contexto mundial, com várias outras figuras fazendo parecido, com suas respectivas diferenças nacionais. E que todos tinham a ver com deslegitimar instituições e processos de estado, fortalecendo os governos e o controle burguês dos estados e o poder econômico também, dificultando processos sociais. Tinha bastante a ver com uma crise econômica prolongada, que até agora não teve grandes melhoras. O que gera uma forte insatisfação social que é captada pela direita neste processo. No caso brasileiro, o bolsonarismo foi o fruto disto.
Com a acusação e indiciamento por participação em tal tentativa de golpe, pode ser que gere socialmente tanto um efeito de dificultar a repetição de um ato similar, por questões de repressão. E também uma boa repulsa, pois tais atos apenas afastariam o povo do poder e abririam margem para medidas ruins. O processo terá de correr, ainda não sabemos quais intervenções virão. Mas se tem uma atenção ali, e algo que se encaminha para uma decisão e seus rumos.