Não é novidade no campo da esquerda, e da sociedade em geral, que o lulopetismo possui uma série de limitações enquanto projeto político econômico. Está também inserido em questões de circunstâncias, de lobby e de poder político econômico, mas falta uma maior criatividade e capacidades políticas. Não apenas no partido, mas no campo esquerdista como um todo. Como figura já histórica da política brasileira, Lula foi bastante importante de figura e de liderança, sendo até hoje o único presidente brasileiro de origem realmente popular.
Como um líder sindical de destaque no ABC paulista nas décadas de 1970 e 1980, sempre foi uma figura conciliadora, sempre buscando fazer um meio de campo entre o empresariado e os trabalhadores. Tendo estado ativo nas eleições desde 1989, com o tempo maneirou o discurso para se aproximar mais da direita brasileira e assim conseguir espaço e algum poder. Até ser eleito em 2002, neste espírito. Seus dois primeiros mandatos foram seus anos dourados enquanto figura política, apesar de sempre ter tido forte oposição da mesma direita com quem se conciliava. Ainda assim, bastante ajudado por um cenário econômico favorável, as commodities, conseguiu fazer um processo de grande crescimento na economia, melhorando bastante as condições de vida de camadas populares. Mas também entregando grandes remessas de lucro aos bancos, rentistas e outros setores da elite brasileira.
A partir da crise econômica mundial surgida nos anos 2010, que levantaram a força política da extrema direita, a situação ficou bastante diferente. Com uma piora nas condições de vida, antigas contradições e problemas sociais vieram mais a tona, fazendo com que a população em geral se sentisse prejudicada. E com isto, ter um sentimento de raiva, o qual a elite soube se apropriar e canalizar para figuras da extrema direita. O que elegeu figuras como Donald Trump, Jair Bolsonaro, deu poder para Orban, Andrzej Duda e, mais tardiamente, elegeu Milei na Argentina. Economicamente, se inseriu uma forte austeridade econômica, o que prejudicava ainda mais a condição da população.
Por diversos fatores, este sentimento foi se arrefecendo, embora esteja se aquecendo novamente agora com a reeleição de Trump. Permitindo algumas mudanças no cenário político, como a derrota trumpista para Biden em 2020. E a derrota de Bolsonaro para Lula em 2022. No caso brasileiro, se teve muito forte a expectativa de que se teriam similitudes com os antigos governos de Lula, com o mesmo tipo de crescimento e força econômica.
Em alguns sentidos de fato se tem de fato. A questão conciliatória novamente está acontecendo. Há novamente um aumento em políticas públicas e sociais, que haviam sido reduzidas ou mesmo extintas no período Temer-Bolsonaro, marcadas pela austeridade e reformas impopulares, além de um limitante teto de gastos colocado que trava o crescimento econômico. Prometendo terminar com estes, Lula não cumpriu a maioria. Conseguiu reduzir a austeridade, mas nada fez com relação ao teto de gastos ou reformas.
Ocorre isto bastante por seu caráter de política conciliatória, que faz acenos ao chamado mercado, tentando agradá-lo ao passo que também tenta fazer políticas públicas e sociais. Como agora fez uma em visível contradição, aumentando a isenção da faixa de Imposto de Renda, mas também dificultando acesso ao BPC (benefício de prestação continuada) dos quais muitas famílias e pessoas dependem diretamente devido às suas condições. Levando até mesmo o bolsonarismo a defender cinicamente este benefício, apenas para prejudicar o governo e lhe enfraquecer imagem.
Nisto a contradição do lulopetismo fica visível no sentido principalmente de se aumentar algumas políticas sociais, bem como o consumo e fazer uma redução da pobreza, mas prejudicar outros benefícios tão importantes e manter austeridade em diversos momentos. Atira para a população e para o mercado, retirando importantes benefícios da primeira e não agradando o segundo. São contradições e problemas que o governo não enfrenta, e que custarão bastante caro. Pois a população, sentindo a ineficiência governamental nestes setores, toma um ar de revolta, do qual o bolsonarismo tentará se apropriar, canalizar e conduzir. Um projeto político econômico ao governo torna-se mais necessário, que consiga fazer com que haja uma maior política econômica de ações para os mais pobres e uma maior equidade econômica.
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