O retorno de Donald Trump para a presidência dos EUA vem coroar uma série de renovações de posturas antigas do país. Não que tenham sido elas propriamente paradas de serem usadas, mas sim de que voltam a ser mais fortalecidas. Isto falando de política de estado. Que não dependem diretamente da decisão de um presidente ou outro, mas que, dependendo do perfil e inclinações do governante podem ser mais ou menos fortes.
No caso, uma das principais políticas de estado dos EUA é o famoso Big Stick, o qual foi implantado pelo presidente Theodore Roosevelt, virulento imperialista, no começo do século XX. Que consistia em usar da força militar e da presença de empresas estadunidenses ao redor do mundo como maneira de garantir interesses nacionais, bem como dar força e domínio ao país yankee. Com o acordo e as alianças feitas por Trump com as Big Techs para usar e garantir que usarão de suas leis e diretrizes nos países, conforme o anúncio feito por Zuckerberg em relação à Meta estarão passando por cima de leis e decisões de países. Especialmente na América Latina, ponto mais nevrálgico do domínio estadunidense. O que mostra novamente uma maneira de se colocar nos lugares e fazer domínio através de manipulação e sabotagem política no local.
Também foram anunciadas algumas medidas improváveis, mas que demonstram uma megalomania de Trump, como anexar Groenlândia, Canadá e México, como maneira de dominar por completo estes territórios. E retomam algumas das medidas antigas, como prometer uma deportação em massa de imigrantes ilegais, além de também tirar a lei que criança nascida nos EUA, mesmo que filha de ilegais tenha a cidadania estadunidense plena. Que é algo previsto constitucionalmente no país, além de uma lei já muito antiga. Já está havendo uma oposição na justiça por lá, para barrar tal ideia. Uma vez que esta vai contra a Constituição.
Economicamente falando, apesar de ser totalmente alinhado com a direita, Trump está longe de ser alguém totalmente pro mercado, ou alguém do laissez faire, que apenas deixa recursos na mão de empresas e tira a ação do governo. Internamente já não há grandes promessas neste sentido, menos ainda para as externas. Onde pretende aplicar mais tarifas a produtos da América Latina, praticando o protecionismo já forte nos Estados Unidos em relação a produtos de outros países. Mantém assim também uma retórica de priorizar o país, de lhe dar algumas prioridades.
Sob vários aspectos, Trump está retomando sua agenda e sua forma de fazer política. Não está sozinho nesta, mesmo internamente têm aliados e adversários, com os quais jogará. Seguirá promovendo discórdias e debates internos, como forma de cortina de fumaça. Além de manter um clima de guerra e desafio para com as instituições americanas. Manterá diversos interesses de estado no país e em outros locais, mas os fazendo talvez de forma mais intensa. Segue usando até então um modus operandi similar, que serve bem para as atuais condições políticas e sociais em que se encontra, a fim de garantir interesses dos poderosos dos EUA, ele incluso nesta lista.
Sociologicamente falando, como vemos um capitalismo cada vez mais excludente, com mais concentração de renda e uma presença cada vez menor do estado como agente de transformação e mudanças sociais neste tipo de cenário, os efeitos são sentidos pela população. O que resulta em mais forte exploração da força de trabalho, menores salários e piores condições de vida. Nisto, ocorre-se uma raiva da população, por assim estar que é apropriada e canalizada pela direita. Assim conservam-se as formas de produção e também os modos sociais. Incentivam-se também comportamentos conservadores e visões tradicionais, como maneira de retomar o que teria dado errado. Assim se garante maior controle e se justifica a exclusão de minorias, como não binários e imigrantes, lhes atribuindo às razões dos problemas. Que legitima ações de perseguição futuras, o qual a saudação romana de Musk pode ser um perigoso indício.
Tal postura e situação vinham desde o primeiro mandato de Trump, que com essa retórica implantou sua política em seu primeiro mandato. As condições de vida e trabalho não melhoraram. Somado a má gestão da pandemia, a oposição ganhou alguma força e venceu as eleições de 2020. Mas tal sentimento de perda e piores condições não sumiram, dando um caldo forte ao trumpismo no período, principalmente por Biden ter sido ineficaz em combater tais situações e condições. Que agora novamente elegeu Trump. Uma volta do que, no fundo, não foi. Se haverá saída, outra forma de retórica dependerá de se fazer política, de se trazer fortes propostas reformistas, que retomem o estado como agente de transformação, em maneira capaz de se estruturar e manter. O que enfraqueceria o trumpismo, também o bolsonarismo e poderia fazer mais profundas reformas sociais.
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