Embora se venda muito a noção e ideia de liberdade, baseado em uma ideia quase metafísica de que podemos ser e fazermos o que quisermos, em termos materiais e sociais está longe isto de ser verdade. As normas sociais presentes colocam uma série de limitações e determinações, bem como um caminho delineado em vários sentidos. Embora não possamos pensar isto em termos deterministas, como se alguém nascido em determinado espaço e contexto será necessariamente daquela forma, pois temos ainda certo livre arbítrio, todas as imposições e características da materialidade exigem de nós uma série de ações e atitudes. Isto, essencialmente, significa uma questão mesmo de sobrevivência.
Pois a sociedade molda-se em suas próprias formas e estruturas, determinando papéis para indivíduos e grupos, que garantem sua reprodução e a continuidade de suas formas, especialmente a desigualdade, pobreza e problemas sociais. A estrutura social nisto se assenta, formando uma forma de ser que assim se reproduz. E é coercitiva, embora também tenha algumas coesões internas, baseadas no fato de que para manter tal ordem, e que cada indivíduo cumpra o papel social determinado para a conservação da sociedade passa-se pelo fato de se manter e aplicar uma série de mecanismos para que isto aconteça. Isto acontece, pois embora o pensamento seja livre, encontra barreiras e determinações materiais. Alguém nascido em um meio dele um fruto nascido e criado ali, tudo que poderá saber e supor do mundo passará por ali. Tal aspecto é trespassado por diversas instituições sociais, como família, classe social, tipo social, poder e diversos outros aspectos presentes na vida de cada indivíduo vivendo em alguma camada social.
A coercitividade, no entanto, não se manifesta e não existem apenas na história e na estrutura social presentes, tendo também outros aspectos. Que são também partes daquilo chamado por Durkheim de método sociológico, no livro “As regras do método sociológico”. Onde coloca que o objeto da sociologia passa por aquilo que é coercitivo socialmente, ou seja, aquilo que é imposto socialmente e faz disto uma estrutura da própria sociedade. Que os principais exemplos seriam as leis, talvez o ponto mais visível de tal coercitividade, junto com convenções e normas sociais. Coloca ainda aquilo que é necessário para que se consiga algo. Exemplificando que se um empresário quiser empreender com métodos antigos poderá fazer. Mas irá falir, pois tais métodos não têm mais funcionalidade, o que se torna também uma coerção social para se fazer de um jeito e não de outro.
Nisto temos toda esta estrutura social presente que determina e nos faz como pessoas, em vários sentidos. Porque ao termo de viver e encarar tais estruturas sociais o que acontece é, principalmente, uma profunda influência e jogo daquilo. Como aquilo é o que vivemos nós, aquilo nos tornou conforme lá estamos. Temos nosso livre arbítrio, que se manifesta no pensamento, mas este pouco pode para com a realidade material. Ainda que, se tivermos alguma malandragem e saibamos onde queremos chegar possamos conseguir alguma coisa dentro deste sistema, será ainda apenas uma exceção, onde a regra é a reprodução e continuidade social. Por ser capitalismo, por certo, aqueles que possuem mais dinheiro gozam de liberdade e conseguem chegar onde querem, mas este é muito concentrado na mão de poucos, privando a maioria das pessoas disto. A coercitividade social então se mostra o instrumento de conservação social, na medida em que faz as pessoas assumirem seus papéis socialmente pré determinados e neles viverem. O coercitivo faz as sociedades.
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