Quando uma história consegue conduzir seus personagens e seu tom até suas melhores formas, dando um encerramento que coroa tudo aquilo que foi escrito, temos um caso de uma obra perfeita. É isto que acontece no conto de Balzac, “A mulher abandonada”. Sendo esta história principalmente entre a oposição entre casamento e amor de verdade contra os de conveniência e validação social, mostrando o quanto a questão de amor pode levar a uma marginalização de tais pessoas, devido ao mal visto socialmente gerado.
A personagem título, a senhora de Beauseant, vive isto de maneira bastante intensa. Já tinha vivido em outra obra de Balzac, “O pai Goriot”, onde havia vivido um romance com o aristocrata português D`Ajuda Pinto. Nesta obra em questão, vive ela sozinha por desdobramentos da história anterior. Ao mesmo tempo, um rapaz está de convalescença na região para se recuperar de uma doença, chamado Gaston de Nueil. Ao ver o local como sendo essencialmente de aparências, não exatamente uma falsidade, mas uma forte frivolidade daquelas pessoas. Que fazem parte de uma aristocracia francesa, parte por sangue e parte por dinheiro.
Nesta vida acaba ele ouvindo falar da Senhora de Beauseant, fica sabendo da história e se interessa por ela, desenvolvendo uma paixão sem nunca tê-la visto. Tem ele 22 anos e ela 30. Acaba conseguindo convencer, através de cartas e alguns criados, que possa ir visita-la um dos dias. Faz várias declarações, mostra a profundidade de seu amor e desejo. Neste ínterim ela lhe conta o quanto acabou sendo mal vista socialmente por ter procurado vivido um amor real, não tendo ficado apenas nas conveniências e naquilo socialmente determinado. Eles se veem duas vezes, ela o rejeitando. Porém, ao fazer ela uma viagem para a Suíça, ele a segue e isso mostra a ela o tamanho de tal amor. Então se unem, vivendo nove anos nas montanhas suíças.
Desde o começo, já há um afastamento que outras pessoas provocam. A mãe de Gaston olha com maus olhos para aquilo, não sendo o que gostaria que o filho fizesse, pensando um futuro típico de casamento de conveniência com alguma moça nobre. Ainda assim ficam esse bom tempo junto. Felizes, com um amor bastante real e profundo. Porém a senhora de Beauseant, agora com 40 anos, começa a sentir algumas culpas, como se o estivesse atrapalhando, também achando que ele olhava para a senhorita de La Rodiére, de 22 anos. Que atenderia as expectativas sociais, ele poderia ter filhos e viver uma vida social típica daquela aristocracia. Gaston não tem por ela desejo, vê também apenas conveniências e uma vida convencional, agora com 30 anos.
Porém acaba cedendo e largando Beauseant, pensando em questões de ser mais convencional. Em pouco tempo, porém o vazio de seu casamento com La Rodiére aparece, lhe dando saudades da antiga esposa. Tenta com ela falar novamente, usando o empregado Jacques como intermediário para entrega de cartas; mas o rejeita, se sentindo profundamente largada. Então sentindo uma profunda perda de amor, Gaston se suicida com um tiro na boca.
Como história, Balzac conduz tudo de maneira perfeita. Ritmo, trama, personagens, desenrolar, tudo é muito bem feito, com um psicologismo agudo. E mostra através de todos esses pontos uma mundanidade comum, o contraponto dela junto. E, muito especialmente, as diferenças entre conveniências e amores profundos, que é algo forte. Principalmente pelas consequências geradas pelo segundo, que são densas e difíceis de se lidar muitas vezes. Com o melhor das capacidades literárias, Balzac conseguiu fazer uma marcante história sobre amor tanto envolvendo diferenças de idade quanto envolvendo conveniências.