Francisco Chagas vagava na floresta polonesa. Em férias no país europeu com os amigos, tivera ele a ideia de ficarem mais alguns dias, transferindo o vôo. Os amigos, que eram do mesmo destacamento ou conhecidos de longa data, estavam no Brasil outra vez. Curioso como era entusiasta de história e cultura, principalmente do leste europeu, decidira ficar um tempo sozinho para viajar e visitar mais locais. Jovem oficial, recém formado tenente do exército, tinha já algum conhecimento e técnicas para andar na floresta, mas ainda se atrapalhava com algumas coisas. Nascido e criado em Itajaí, Santa Catarina, não estava exatamente acostumado com o inverno polonês. Não pegara as intensas neves ainda, mas já achava aquele frio de fim de inverno era algo incômodo para si. Talvez se passasse tempos em Chapecó ou outras cidades do oeste estivesse mais preparado.
E agora estava ali, em Voivoda da Santa Cruz, sul da Polônia. Descera uma semana antes com os amigos em Varsóvia, a fim de percorrerem o país que queria conhecer. Convencera-os a acompanhá-lo naquela viagem exótica, onde poucos faziam o que eles fizeram. Foram nos locais básicos, conheceram Varsóvia, Cracóvia, Wroclaw, Auschwitz e alguns outros pontos que as pessoas que lá vão costumam visitar. Porém, ao final do passeio combinado, muito interessado em tudo aquilo, Francisco dissera aos amigos que queria ficar e explorar outras partes do país.
Ouvira falar de um local místico e histórico por lá, a Montanha Careca, no qual possuía uma riqueza cultural e religiosa ímpar, sendo um local que devia visitar. Interessado e conhecedor de diversas religiões, o jovem militar se interessara por lá e quis ir. Também jogador assíduo da série The Witcher, via agora a oportunidade de conhecer pessoalmente o local onde já realizara missões no jogo. Pesquisando, descobriu ser a montanha Lysica a maior da região, em Voivoda da Santa Cruz. De ônibus foi para lá, junto com um guia local, que falava um inglês medíocre, a língua na qual se comunicava com Francisco, que também não dominava o idioma anglo saxão. O brasileiro seguiu as indicações dele, vendo bastante floresta densa ao redor de tudo.
Quando avistaram a montanha, enxergando de longe, Francisco ficou já emocionado. Sentia um poder, uma alma emanando daquilo. Olhando aquele cume de longe sentia como se um grande ser lá estivesse, emanando poder e puxando almas para próximo dele. Algo belo e forte, mas também que inspirava perigo. Contou isso ao guia, que respondeu dizendo que ele estava assistindo muito filme da Disney. Que a única coisa que sentia naquele lugar era vontade de ir embora, se sentia mal por lá. Aceitara o serviço de guia só porque estava precisando de dinheiro.
Foi levado pelo guia até uma região próxima, mas sem conseguir subir nela. Pediu ao guia que lá queria ir, sentir a energia de Lysica, a montanha careca em toda sua força. O guia se negou, dizendo que se quisesse fosse sozinho. Pouca gente morava lá, tendo apenas algumas esparsas casas entre aquela floresta e a mata. Indignado, se sentindo largado, disse que o guia podia ir embora. Já o tinha pagado e dele não precisava mais. Faria à subida e depois pegaria um ônibus para Varsóvia de volta. Militar formado saberia se guiar naquela mata e voltar. Sem nenhuma vontade de contrariar aquilo, foi embora o guia. Sem pensar mais vezes, foi Francisco Chagas entrar na floresta polonesa.
Com o treinamento militar que possuía, de fato conseguia se guiar por lá, embora o frio o judiasse bastante naquela situação. Carregava consigo algumas armas que teve de usar para assustar alguns lobos que apareceram. Chegou a se sentir a Chapeuzinho Vermelho perdida na floresta, mas lembrou que era homem e devia ser, na verdade, o caçador. Após umas duas horas andando ali, conseguindo ver que estava indo na direção do local, encontrou uma cabana, bem ao pé da montanha.
Já cansado, bateu na porta. Uma mulher de meia idade, provavelmente uma camponesa polaca, abriu. Vestia roupas simples com um manto que cobria os ombros, mas não sua cabeça e cabelos. Francisco explicou que era um militar brasileiro querendo conhecer a montanha por causa de sua história. A mulher de maneira acolhedora o convidou para entrar. Falava também um inglês medíocre, contando ser porque estivera em alguns congressos em Londres recentemente. Dentro da casa, acima da lareira acesa, havia imagens de Cristo e de Nossa Senhora. Disse ela ser muito católica, estar sempre ajudando os perdidos naquela área. Apresentou-se então. Era Apolônia Nowak. Podia ser chamada de Pola. Sentaram na frente da lareira. Serviu-lhe uma xícara de chá preto. Começaram a conversar.
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