Jornal da 2CNews

Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025

Política

Fim 6X1

Já há um bom tempo se faz uma constatação de como e porque é ruim tal escala.

Pedro Fagundes de Borba
Por Pedro Fagundes de Borba
Fim 6X1
Érika Hilton; Wikimedia commons. Criador: Zeca Ribeiro.
IMPRIMIR
Espaço para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.

Na estrutura do trabalho brasileiro, baseado em uma série de fatores e, especialmente, na própria organização social do trabalho no Brasil, há alguns tipos de escalas. A mais comum chamada comumente de escala comercial, é aquela também mais internalizada e reconhecida pelas pessoas. Ou seja, trabalha-se de segunda a sexta, folgando-se sábados e domingos. Que são 5X2. Coexistindo com esta, há algumas outras. Temos a 12X36, que se trabalham doze horas seguidas, depois folgando trinta e seis, um dia e meio. Há ainda algumas escalas alternativas, como a 5X5, onde se trabalham doze horas, cinco dias seguidos e depois se folgam outros cinco. Uma, entretanto, é particularmente desgastante e forte, que é a 6X1. Nesta escala, são oito horas de trabalho diárias durante seis dias da semana. 
     Uma das coisas que fazem a existência de tal escala é que é muito usada por locais que não fecham, sendo pontos de diversão e/ou programas de famílias 5X2 nos finais de semana. Como shoppings, restaurantes, supermercados, hotéis e alguns tipos de estabelecimentos comerciais. Em si é, evidentemente, uma terrível escala, pela quantidade de trabalho posto. Não é um trabalho sem demanda, pois continua andando e existindo, porém conduzida de maneira muito ruim. Por estar desta maneira atrelada, e não haver uma oposição a ela na CLT ou algum outro documento trabalhista no Brasil trata-se de algo organizado e previsto. O que significa dizer que o trabalho brasileiro está estruturado prevendo ela, tendo ela como uma de suas coisas liberadas, que pode ser feito. Consequentemente torna-se esta uma das estruturas do trabalho no Brasil. 
     Já há um bom tempo se faz uma constatação de como e porque é ruim tal escala. Por produzir longos períodos de estresse e de cansaço, não sendo a folga semanal repositória, fazendo com que a vida da pessoa seja basicamente o trabalho. O que torna-se algo negativo, impedindo-a de fazer mais coisas. Pela divisão do trabalho social, que se distingue da divisão social do trabalho, tais empregos constituem atividades normalmente mais primárias, sem tanto prestígio social, apesar de sua vital importância também. Neste sentido, ficam reservadas para pessoas de mais baixas condições sociais. Que, com menos perspectivas, poder e possibilidades na vida, terminam com elas se sujeitando. Totalmente trata-se de um reflexo da marginalização, subordinação e limitação que são sistematicamente impostas para estas pessoas.       
   Isto tudo mostra o quão ruim é a escala de trabalho, não só no Brasil, mas na maioria dos países. Em alguns lugares do mundo, especialmente Europa, está já se pautando novas relações de trabalho, nos quais há menores escalas de trabalho. No Brasil, tal pauta surgiu com o movimento VAT (Vida Além do Trabalho) um movimento popular gerado por trabalhadores e entidades. Que no âmbito da política formal, no caso o congresso, teve como principal levantadora a deputada Érika Hilton (PSOL-SP) que eleita em 2022, se tornou uma congressista bastante conhecida e levantada pela esquerda, principalmente pela pauta LGBT através dos travestis, como se identifica. Agora, com a pauta do fim da escala 6X1 deu maior voz a esta questão e está levantando discussões e medidas para que esta termine.
     O que passa diretamente por uma reformulação e discussão sobre as escalas e a organização do trabalho no Brasil. Fazer com que as coisas abram por menos tempo ou funcionem menos dias não é uma opção, visto que há demanda para que fiquem abertas e há público. Porém o que verdadeiramente deve ser feito é a reformulação das escalas de trabalho para atendimento de tais demandas. Ou seja, maiores contratações e uma nova forma de organizar o trabalho. Quando alguns vão, outros chegam. O que seria ótimo para diminuir o desemprego, tendo em visto que mais pessoas trabalhariam. Neste sentido, se talvez não seja possível fazer e organizar tudo de uma vez é um começo para melhorar as relações de trabalho e consequentemente a vida dos que dele dependem. O que ajudaria a criar uma melhor sociedade.    

 

Pedro Fagundes de Borba

Publicado por:

Pedro Fagundes de Borba

Saiba Mais

Crie sua conta e confira as vantagens do Portal

Você pode ler matérias exclusivas, anunciar classificados e muito mais!