Não é novidade na história brasileira afastar o povo das decisões políticas. Já na época do Império se tinha bastante institucionalizado e orquestrado. Tanto pela figura do Imperador com o Poder Moderador, que lhe conferia poderes exclusivos, e também pelo próprio parlamento do Brasil a época. Com a República, as coisas não mudaram muito. Os cargos políticos que eram abertamente indicativos na monarquia agora seriam vários eletivos. Porém é formada uma série de mecanismos para diminuir ao máximo possível o número de eleitores. O mais celebre seria a restrição dos votos aos homens, alfabetizados e que possuíssem determinada renda. Durante a era Vargas, tudo foi decidido em torno do presidente Getúlio Vargas, empossado com a Revolução de 1930, tirando o poder do povo. Mesma coisa na ditadura de 1964. Após esta, em 1988, se teve pela primeira vez o voto universal no Brasil, com a Constituição. Até então sempre havia alguma parcela excluída dos atos de votação.
Mesmo em períodos democráticos, se tomaram uma série de ações e posturas que também afastavam o povo de tais decisões. Nestes casos, pode ser destacado o momento no qual se tentou criar um parlamentarismo em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, que, após uma tentativa de golpe frustrada pela Campanha da Legalidade liderada por Brizola, se criou um parlamentarismo com o presidente Jango e Tancredo Neves como primeiro ministro. O que afastava as demandas e clamores populares Com outra campanha de Brizola foi derrubado em 1963, o qual trouxe de volta várias das demandas, destacando as reformas de base. Que, dentre tais coisas, motivou uma nova tentativa de golpe consumada em 1964.
Agora novamente se tem outra proposta de parlamentarismo tramitando no congresso, bastante apoiada pelo presidente da câmara dos deputados, Hugo Motta. Que, outra vez está relacionado com tirar os poderes de decisão do executivo, o focando de vez no legislativo, centrando as decisões em um primeiro ministro. O que trará essencialmente um menor poder de decisão e de peso no voto. Pois o Presidente da República, que possui poder de sancionar ou aprovar leis legislativas conforme demandas e contextos. Tal coisa não ocorre no caso de um primeiro ministro, que é eleito pelo congresso. Portanto, como o Presidente é eleito, sancionar ou aprovar as medidas fica na mão de alguém que é diretamente colocado pelo voto da população, lhe dando um respaldo direto deste voto. E, caso não agrade, possa ser mudado pelo povo. Então o poder de decisão fica sob alguém que depende das pessoas gerais para ficar no poder. Já o primeiro ministro, por não ser eleito, fica disto blindado. Facilitando a aprovação de interesses escusos e de medidas ruins para a população, que não terá poder para mudar isto institucionalmente.
Para as elites nacionais tal proposta seria de grande valor, pois tiraria quase totalmente o poder popular, diminuindo a amplitude e alcance do voto. Assim as demandas do povo e suas necessidades poderiam ser ignoradas. A concentração seria muito maior nas decisões do chamado centrão, que funciona como área fisiológica para as ideias predominantes, dominada pela direita. Por mais limitada que sejam as decisões do povo nestas organizações políticas, onde os jogos políticos sempre pendem para os poderosos, ainda assim há poder de contestação e decisão do povo nestes momentos e mecanismos. Pois dependem mais do voto para conseguir ter posição e poder. Também garantindo as pessoas representações diretas com mais influência de suas ações. Será importante que tal proposta não seja aprovada, para que tais ações não sejam tomadas, garanta ao povo um pouco de poder. Que precisa expandir, mas isso apenas retrocederia.
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