É evidente que Brasília ocupa um lugar peculiar no imaginário político do PT e, mais especificamente, do presidente Lula. Pela segunda vez em menos de dois anos, seu governo tenta alterar as regras do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), essencial para financiar áreas cruciais como saúde, educação e segurança pública. A medida, longe de ser apenas um ajuste técnico, soa como um revanchismo político contra uma capital que reiteradamente rejeita o projeto petista. O governador Ibaneis Rocha, reeleito em primeiro turno, deixou claro que o eleitorado brasiliense prefere manter distância segura do PT.
A tentativa de mudar o cálculo de reajuste do FCDF revela muito mais que uma preocupação com números. Trata-se de uma estratégia calculada para tentar minar as bases de uma gestão que desagrada o PT. Brasília, com sua autonomia peculiar e um perfil de eleitorado historicamente desconfiado das narrativas petistas, representa um espinho constante na relação de Lula com a cidade. A capital federal, símbolo de resistência às investidas do partido, virou alvo de uma espécie de revanche velada, onde a política econômica funciona como arma de desestabilização.
A abordagem, que mistura autoritarismo econômico com despeito político, expõe uma fragilidade do partido em lidar com críticas e derrotas locais. A tentativa de reajustar o FCDF é menos sobre justiça fiscal e mais sobre tentar, por vias indiretas, punir uma cidade que lhes virou as costas.