Na tentativa de estabilizar as contas públicas e conter a disparada do dólar, que atingiu o recorde de R$ 5,91, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou um pacote fiscal com cortes de R$ 70 bilhões a serem implementados entre 2025 e 2026. O anúncio, feito em rede nacional, detalhou medidas voltadas à contenção de gastos e reformas estruturais, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil e ajustes nas aposentadorias dos militares, incluindo a imposição de idade mínima e restrições nas transferências de pensões.
O pacote fiscal também prevê alterações no abono salarial, que será limitado a quem ganha até R$ 2.640, e mudanças no salário mínimo, que passará a ser reajustado conforme a nova regra do arcabouço fiscal. Além disso, 50% das emendas parlamentares das comissões do Congresso serão destinadas obrigatoriamente à saúde pública, reforçando os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Essas ações visam garantir maior equilíbrio orçamentário em um contexto de déficit primário e crescentes pressões econômicas.
Economistas, no entanto, demonstraram ceticismo em relação ao impacto das medidas. Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o pacote é insuficiente para equilibrar as contas públicas no longo prazo. "A ampliação da isenção do IR representa um custo significativo que pode anular parte dos cortes propostos", afirmou. O especialista apontou a necessidade de ajustes mais profundos a partir de 2027 para garantir a sustentabilidade fiscal.
A apresentação do pacote também teve desdobramentos no Congresso Nacional, onde o governo busca apoio para aprovação das medidas antes do recesso parlamentar em dezembro. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães, confirmou que o objetivo é votar as propostas ainda este ano. No entanto, a ampliação da isenção do IR deverá ser tratada separadamente, por meio de um Projeto de Lei Complementar a ser analisado no próximo ano.
Para Haddad, as medidas são um passo importante na reestruturação das contas públicas. Ele destacou a colaboração entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário na revisão do arcabouço fiscal. Ainda assim, analistas indicam que o mercado financeiro pode continuar reagindo com tensão diante das incertezas quanto à execução do plano. "O momento exige firmeza e ajustes estruturais robustos, e o mercado vai acompanhar de perto cada etapa desse processo", ressaltou o economista Felipe Salto, da Warren Investimentos.