O segundo ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entra na reta final marcado por turbulências econômicas. Com o dólar disparando e a taxa básica de juros (Selic) em patamares elevados, o governo enfrenta dificuldades para convencer o mercado de que suas políticas fiscais são suficientes para equilibrar as contas públicas.
A alta do dólar, que nesta terça-feira (17) atingiu impressionantes R$ 6,20, reflete não apenas a instabilidade internacional, mas principalmente as incertezas sobre a condução da política econômica no Brasil. Apesar de esforços do Banco Central (BC), que tem realizado leilões de dólares para conter a escalada da moeda americana, o mercado parece pouco confiante nas promessas de austeridade fiscal do governo federal.
A equipe econômica de Lula apresentou, em novembro, um pacote de contenção de gastos, mas as medidas foram consideradas tímidas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o planejamento: “O apelo que ele [Lula] está fazendo é para que as medidas fiscais não sejam desidratadas. Nós temos aí um conjunto de medidas que garantem a robustez do arcabouço fiscal. Estamos muito convencidos de que vamos continuar cumprindo as metas fiscais nos próximos anos.”
Ainda assim, o cenário não inspira otimismo. Com a Selic em 13,75% ao ano, os juros altos mantêm a economia estagnada, desestimulando investimentos e travando o crescimento. Para os consumidores, os impactos são sentidos diretamente no bolso, seja pelo aumento dos preços de produtos importados, seja pelo custo crescente do crédito.
Lula, que durante a campanha criticou duramente a gestão econômica do governo anterior, agora enfrenta as mesmas armadilhas que prometera superar. Em vez de soluções efetivas, o Planalto parece encontrar culpados. O Banco Central, que opera de forma independente, virou alvo preferencial, com críticas frequentes às suas decisões sobre a política monetária.
Porém, no mercado, o diagnóstico é outro. Analistas apontam para a falta de clareza na política fiscal e para os ruídos entre o governo e a equipe econômica. “O governo precisa passar confiança e previsibilidade. Por enquanto, só vemos remendos e discursos conflitantes, o que não ajuda a controlar o câmbio ou os juros altos”, avaliou um especialista consultado.
Enquanto isso, a população assiste ao custo de vida disparar, sem sinais de alívio no horizonte. Na prática, o “novo Brasil” prometido parece cada vez mais distante, e as dificuldades na economia cobram seu preço político, corroendo o capital de confiança do governo Lula.