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Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025
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Política

Democracia é inegociável: a vitória sobre o golpismo não pode ser usada para justificar autoritarismos travestidos de democracia relativa

Celebração de 8 de janeiro exalta instituições, mas expõe contradições de quem defende uma democracia com limites e agora flerta com o autoritarismo ideológico

Claudio Campos
Por Claudio Campos
Democracia é inegociável: a vitória sobre o golpismo não pode ser usada para justificar autoritarismos travestidos de democracia relativa
Agência Brasil
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O Brasil relembra nesta quarta-feira (8) os dois anos de um dos momentos mais sombrios de sua história recente: a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. Para marcar a data, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) realizam eventos públicos que celebram a vitória das instituições democráticas sobre os ataques golpistas.

Foi uma página que muitos prefeririam esquecer, mas o governo escolheu reescrevê-la com tons de celebração. Em 8 de janeiro de 2023, extremistas atacaram o coração do Estado brasileiro, num ato comparado à ruptura institucional de 1964. Agora, dois anos depois, o Palácio do Planalto será palco de eventos que incluem a devolução de 21 obras de arte e itens históricos restaurados, além de uma caminhada simbólica liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O evento começa com a entrega de peças recuperadas após os ataques. Entre os destaques está o relógio de Balthazar Martinot, presente da corte francesa a Dom João VI no século 18. Destruído durante as invasões, o artefato passou por restauração na Suíça, sem custos, segundo o governo. Outro momento simbólico será o descerramento da obra As Mulatas, de Di Cavalcanti, no terceiro andar do Planalto.

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No entanto, nem tudo será harmonia. A cerimônia já nasce desfalcada: o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, estará ausente por conta de uma viagem internacional previamente agendada, deixando sua cadeira representada pelo vice, senador Veneziano Vital do Rêgo.

Embora o discurso oficial celebre a "vitória da democracia", a escolha da narrativa não deixa de despertar críticas. Entre os anfitriões do evento, muitos são os mesmos que propagam o conceito de "democracia relativa" — um eufemismo para regimes que flertam com o autoritarismo. O mesmo governo que hoje destaca a importância das instituições democráticas trabalha na implementação de um modelo que chama de "socialismo democrático", um paradoxo que intriga os críticos mais atentos. Afinal, socialismo e democracia caminham juntos apenas nos slogans; na prática, os exemplos históricos mostram que regimes socialistas dependem de estruturas autoritárias para sobreviver.

A ironia, porém, parece passar despercebida pelos organizadores, que transformam um dia de reflexão em uma vitrine de virtudes institucionais. A democracia, que deveria ser um compromisso com a pluralidade e a alternância de poder, é usada como ferramenta política. A lembrança de um momento sombrio vira palco para discursos que beiram a demagogia.

Se há uma lição que 8 de janeiro de 2023 deveria ensinar, é que a democracia não se preserva apenas com palavras ou cerimônias, mas com atitudes concretas, livres de interesses ideológicos ou jogos de poder. Celebrar a vitória das instituições sobre o golpismo é justo; esquecer que o mesmo zelo é necessário para evitar os perigos do autoritarismo de qualquer espectro, no entanto, seria repetir os erros que nos trouxeram até aqui.

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